IMPOSTO DE RENDA - Dilma veta correção de 6,5%.

Justificativa para o veto é que reajuste na tabela do IR levaria à renúncia fiscal de R$ 7 bilhões, sem vir acompanhada da devida estimativa do impacto orçamentário-financeiro. Nova MP será enviada ao Congresso propondo percentual menor, de 4,5%.

Quem esperava uma correção na tabela do Imposto de Renda (IR) na fonte mais perto da taxa de inflação para aliviar o orçamento ficou frustrado e vai continuar pagando pelo aumento de gastos do governo federal. A presidente Dilma Rousseff vetou a correção de 6,5% da tabela de IR para pessoas físicas no ano-calendário de 2015. Em 2014, a inflação medida pelo IPCA foi de 6,41%. Um reajuste na tabela abaixo desse patamar significa, na prática, um aumento real do imposto. Segundo justificativa do veto publicada no Diário Oficial da União de ontem, a proposta de correção da tabela em 6,5% "levaria à renúncia fiscal da ordem de R$ 7 bilhões, sem vir acompanhada da devida estimativa do impacto orçamentário-financeiro, violando o disposto no art. 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal". O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, informou que nova Medida Provisória (MP)com correção menor da tabela será enviada ao Congresso nos próximos dias. Segundo ele, o governo fará uma correção de 4,5% na tabela de IR. Esse percentual já havia sido proposto por Dilma por meio de MP no ano passado, mas o Congresso ampliou a correção para 6,5%. "O espaço fiscal que temos hoje é de (um reajuste de) 4,5%", afirmou Vargas ontem, durante café da manhã com jornalistas setoristas do Palácio do Planalto. "Ao não atualizar a tabela, temos um ’aumento inverso’ do Imposto de Renda", comentou Antônio Teixeira Bacalhau, analista da IOB Sage, consultoria especializada em legislação tributária. "Enquanto não temos uma nova lei, o Imposto de Renda retido na fonte vai sendo recolhido com base nos valores de 2014. Isso pode se prorrogar por mais alguns meses, colaborando para reforçar o caixa do governo", acrescenta. Nos últimos oito anos, a tabela foi corrigida em 4,5%, que é o centro da meta de inflação do Banco Central. Mesmo assim, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem ficado mais perto do teto da meta, de 6,5%, há uma defasagem nos ajustes do IRPF, estimada por alguns especialistas em mais de 60% nos últimos 20 anos. Editada em meados do ano passado, a Medida Provisória 644 corrigia a tabela em 4,5%, mas perdeu validade no fim de agosto, em meio às discussões políticas às vésperas da eleição. Na ocasião, a Receita Federal estimava que a correção geraria uma perda de arrecadação de R$ 5,3 bilhões em 2015. Para João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper, o veto à correção de 6,5% na tabela do IR é uma forma de o governo arrecadar mais, o que vai ao encontro das outras medidas anunciadas pela nova equipe econômica. "O que aconteceu nos últimos anos é uma deterioração da situação fiscal em função de um aumento de gastos, que agora se resolve aumentando impostos. Não é o ideal, mas a outra opção seria permitir uma alta da dívida pública, que colocaria em risco nosso rating no grau de investimento", comenta.
Superávit
A possibilidade de a atual tabela do IRPF ser prorrogada por alguns meses sem correção deve facilitar na tarefa do setor público consolidado de atingir um superávit de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, algo em torno de R$ 66,3 bilhões. A meta do governo central é de R$ 55,3 bilhões, mas a União pode ser obrigada a compensar a parte de estados e municípios, de R$ 11 bilhões. Na segunda-feira, Levy anunciou uma série de medidas para impulsionar a arrecadação, em um pacote de R$ 20,63 bilhões. O governo elevou o IOF sobre operação de crédito para pessoa física, aumentou PIS-Cofins sobre importados, tributou distribuição de cosméticos e subiu os impostos que incidem sobre combustíveis. Juntando com a recomposição do IPI de automóveis, que deve render R$ 5 bilhões este ano, e as mudanças no seguro desemprego, abono salarial e pensões do INSS, que podem gerar economia de US$ 18 bilhões, o pacote total já se aproxima de R$ 43,6 bilhões. O governo também anunciou um bloqueio provisório de um terço dos gastos discricionários dos ministérios. Se fosse mantido até o fim do ano, poderia representar uma economia de R$ 22,7 bilhões. Para Mascolo, "não há dúvida" de que o governo vai atingir um superávit de 1,2% do PIB este ano. Na verdade, ele acha que Levy pode até surpreender, com um resultado ainda maior, perto de 1,4%. "Ele vai para o Fórum Econômico Mundial esta semana com um discurso bem diferente dos seus antecessores. Quanto mais rápido ele reconquistar a credibilidade, mais rápido isso se refletirá na confiança nos empresários e chegará na economia real", comenta. (Com agências)




Fonte: JC

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