Reajustes de preços
administrados acima do esperado pressionam consultorias a iniciar revisão de
projeções para o IPCA deste ano.
Após a forte elevação vista no primeiro
trimestre, os preços administrados – controlados pelo governo – estão
embarcando em uma nova onda de pressão que não estava na conta de muitos
economistas do mercado financeiro, com alguns deles revendo suas projeções de
inflação. Após os aumentos de preços de energia, combustível, tarifa de água e
esgoto em São Paulo e de transporte urbano em várias capitais terem provocado
um salto na inflação até março, o mercado contava com uma certa acomodação nos
meses seguintes. Mas tem havido surpresas, como a alta extraordinária nas
tarifas de água e esgoto em algumas capitais e o reajuste nas apostas de
loterias. “Têm diversos reajustes que estão vindo acima do esperado, que,
somados, devem gerar revisão (na projeção de inflação). Mas não tem nenhum
grande choque, está bastante pulverizado”, disse a economista Adriana Molinari,
da consultoria Tendências. Adriana se refere, por exemplo, aos reajustes da
Sabesp, da Eletropaulo, dos jogos lotéricos e ainda aos aguardados para planos
de saúde, que normalmente são autorizados para o começo do segundo semestre e
devem ficar acima de 9%. “Devem vir um pouco em linha com a inflação de saúde.”
A Agência Reguladora de Saneamento e Energia (Arsesp) autorizou um novo
aumento, de 15,24%, a partir de junho, para as tarifas da Sabesp, que alega
aumento de custos por causa da energia mais cara e falta de chuvas. E, a
Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (Seae)
autorizou a Caixa a aplicar, a partir de maio, um aumento médio de nada menos
do que 38,91% no preço das apostas das loterias, que também pesam na inflação. Aumento
dobra. Já as tarifas da Eletropaulo devem subir, em média, 15,16% a partir de 4
de julho, segundo proposta da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para
o aumento ordinário da companhia. Os aumentos nas contas de luz e água na
capital paulista foram praticamente o dobro do esperado pela economista da
Tendências. Ela estimava algo em torno de 8% nos dois casos. “Só essa diferença
acrescenta 0,10 ponto porcentual na previsão do IPCA deste ano”, disse,
lembrando, ainda, dos aumentos de água e esgoto promovidos em Belo Horizonte
(15%) e em Salvador (10%). “Alguns reajustes são indexados, mas este ano as
distribuidoras alegam que têm um custo adicional por causa da crise hídrica, em
alguns casos, e de desequilíbrio financeiro, além de gastos com energia”, disse
Adriana. No caso das loterias, a economista estima um impacto de um terço na
inflação, como foi no ano passado, ou 0,08 ponto porcentual a mais no IPCA. Com
todos os aumentos, a expectativa da Tendências para a inflação em 2015 deve
passar de 8,1% para 8,3%. Viés de alta. Carlos Kawall, economista-chefe do
Banco Safra, também colocou um viés de alta para sua expectativa de IPCA de
8,70% para 2015, citando que há uma série de novas pressões de preços
administrados, como o reajuste maior do que o previsto nas loterias. Temos
agora também o risco vindo da telefonia com o possível reajuste do fundo das
telecomunicações”, afirmou. A Fazenda estuda reajustar as cobranças do Fundo de
Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) para ajudar a cumprir a meta fiscal
de 2015, o que pode deixar as contas de telefone e internet mais caras este
ano. Marcel Caparoz, economista da RC Consultores, esperava que as novas altas
de preços administrados a partir do segundo trimestre fossem menores. Desde o
começo do ano, fez algumas revisões nas suas expectativas para o IPCA de 2015,
que começou com uma previsão de cerca de 7%. Com os reajustes expressivos e
inesperados nas tarifas de energia, a projeção logo atingiu 7,5% e, atualmente,
está em 8,1%. “Foi um período que concentrou diversos reajustes de monitorados.
Foi uma tempestade perfeita. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Alguns de magnitude
muito forte, principalmente energia elétrica. Os combustíveis também subiram e
ainda tiveram aumento de impostos. Foram reajustes que vieram muito acima”,
afirmou. Economia fraca. Apesar das incertezas que permeiam principalmente a
inflação dos preços administrados nos próximos meses, o economista da RC
Consultores não descarta a possibilidade de o IPCA fechar um pouco abaixo de
8%, por causa dos preços livres. Para ele, a atividade econômica mais fraca
deve começar a refletir sobre os preços, especialmente de alguns serviços
considerados não essenciais.
Fonte:
JESP
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