Em todo o mundo, e
não só no Brasil, aumentam as dúvidas sobre o real poder dos bancos centrais de
controlar a inflação apenas com a política de juros.
As dúvidas começam com o próprio conceito de
inflação, que está longe de ser unanimidade entre os economistas. Há alguns
anos, argumentava-se que inflação não é uma situação em que “as coisas aumentam
de preço”. Inflação, ensinavam os economistas, é dinheiro perdendo valor. Perde
tanto valor que vai sendo preciso cada vez mais dinheiro para comprar a mesma
coisa. Esse conceito de que inflação é manifestação da desvalorização da moeda
é o principal fundamento do regime de metas de inflação. Trata-se de municiar
os bancos centrais de um sistema de bombas. Quando a inflação baixa para níveis
abaixo da meta, a bomba trata de injetar moeda na economia; quando a inflação
aumenta, a bomba faz o contrário. O resultado é o tamanho dos juros. Quando há
mais moeda na economia, por efeito da lei da oferta e da procura, seu preço (os
juros) cai: quando acontece o contrário, aumenta.
Mas a inflação não é só o resultado da perda
de valor da moeda. Inflação de custos, ou seja, quando as mercadorias
escasseiam por um fator qualquer, como chuvas demais ou de menos, ou pela
atuação do cartel do petróleo, os preços também sobem. A inflação pode cair por
efeito de outros fenômenos que não têm nada a ver com o volume de moeda na
economia. A partir dos anos 80, a inflação mundial despencou pelo impacto
causado por dois fenômenos novos: a emergência da China, que despejou produtos
industrializados no mundo a uma fração dos preços então vigentes; e o emprego
crescente de Tecnologia da Informação, que reduziu substancialmente a necessidade
de capitais, de instalações e de mão de obra. Também derrubou os custos de
produção e, consequentemente, os preços de mercadorias e serviços. Neste
momento, por mais que os grandes bancos centrais injetem dinheiro na economia
para reativar a produção e o emprego, a inflação dos países avançados (o Brasil
é outro caso) rasteja. O maior risco entre eles é deflação, não inflação.
Enfim, a intensificação do processo de globalização vai mudando também a
equação que julgava a estreita relação entre moeda e preços. Há anos,
argumenta-se, também, que a maneira como os bancos centrais medem a inflação
para efeito de definir a política de juros é questionável, porque os índices do
custo de vida não levam em conta a evolução de valores importantes da economia,
como os preços dos imóveis e dos ativos financeiros (ações, títulos,
commodities e do próprio câmbio). Estas e outras razões são suficientemente
fortes para concluir que, apesar do maior conhecimento e dos constantes
aperfeiçoamentos dos mecanismos de atuação, o sistema de metas de inflação hoje
em vigor na maioria das economias é notavelmente insatisfatório como
instrumento de controle de inflação. A aplicação generalizada do sistema de
metas não tem mais do que 40 anos. Por enquanto vão se acumulando as limitações
de sua utilização, mas ainda não foi inventado mecanismo melhor para controle
da inflação.
Fonte:
C. Ming/ JESP
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