FMI: compromisso fiscal resgatou parte da confiança no Brasil.

Para diretor do Fundo, apesar do ambiente mais desafiador, houve ganho de credibilidade nos últimos seis meses.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) sinalizou nesta quarta-feira que o firme compromisso do governo brasileiro com a sustentabilidade fiscal no médio prazo deve atenuar o impacto da iminente revisão da meta de superávit primário (economia para pagamento de juros) prometida para 2015. Para o diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental do organismo, Alejandro Werner, o empenho do governo para acertar as contas públicas, sob liderança do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ajudou a resgatar, nos últimos seis meses, significativa parcela da credibilidade perdida nos dois anos anteriores, durante os quais a “situação fiscal do Brasil se deteriorou severamente”, resultando em um rombo em 2014 pela primeira vez em anos. A equipe econômica avalia que número substituirá o percentual de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) que consta do Orçamento da União. O objetivo poderia passar para 0,7% ou 0,8%, embora o senador Romero Jucá (PMDB-RR) tenha proposto 0,4% do PIB, patamar considerado inadmissível por Levy. Werner admitiu que a recessão mais forte do que se esperava — a projeção do FMI para o PIB passou, em apenas um trimestre, de contração de 1% para retração de 1,5% — dificulta o trabalho de recomposição das contas públicas. A arrecadação no Brasil continua em queda acentuada, dificultando a economia de recursos necessários ao cumprimento do superávit. A política também tem atrapalhado, retardando a aprovação das medidas de austeridade e gerando novas despesas num Congresso em pé de guerra com o Palácio do Planalto. — Estamos acompanhando a situação e reconhecemos um ambiente mais desafiador. Mas achamos que é muito importante o fato de que os mercados e agentes econômicos reconhecem o compromisso de todo o governo com a sustentabilidade fiscal de médio prazo. E acho que houve um ganho significativo nesta credibilidade nos últimos seis meses — avaliou Werner.
DESEMPREGO, SALÁRIO EM QUEDA E INFLAÇÃO
Além da questão central da baixa confiança, o que derrubou investimentos e segurou o consumo, Werner incorporou um novo elemento às previsões sobre o Brasil: o aumento do desemprego e a queda dos salários, que podem deprimir ainda mais os gastos das famílias. — Dados preliminares do segundo trimestre indicam uma nova deterioração (da atividade econômica, após retração de 0,2% entre janeiro e março), inclusive no mercado de trabalho — disse o economista, acrescentando que a inflação permanece “incomodamente alta”. Como o Brasil, outras economias latinas, especialmente na América do Sul, viram os níveis de confiança do empresariado e da população desabar, afirmou Werner. Esse é um dos motivos centrais pelos quais o ritmo de expansão dos investimentos, na média da região, chegaram literalmente ao fundo do poço. Os preços deprimidos das commodities e o alto endividamento corporativo, em momento no qual o dólar se aprecia, aperta ainda mais o caixa das empresas. — Os indicadores de confiança de várias economias da América Latina apresentaram níveis surpreendentemente baixos. No caso dos investimentos, as taxas de crescimento de dois dígitos nos anos de 2010 e 2011 desaceleraram a zero por cento e o crescimento deverá manter-se baixo ou nulo por um período longo — alertou Werner. A previsão de expansão da América Latina em 2015 foi revisada pelo FMI de 0,9% para 0,5%, o quinto ano de frustração de expectativas. Enquanto no México, na América Central e no Caribe o primeiro trimestre decepcionante dos EUA foi fator dominante, na América do Sul pesaram mais a queda dos preços das matérias-primas e condições domésticas. O quadro de estagnação arrisca prolongar-se na América Latina, salientou o diretor do FMI. E a recuperação não será proporcionada por impulso externo ou pelo gasto público, dada a limitada capacidade fiscal da região. É hora de reformas, recomendou Werner: — Há risco de baixo crescimento no longo prazo, pois já estamos rodando abaixo do crescimento potencial. (A retomada) terá de vir de uma melhora significativa em investimentos e produtividade. Isso requer tempo e trabalho duro. Este deve ser o foco. Será uma aceleração lenta.









Fonte: O Globo

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